quinta-feira, 20 de maio de 2010

Conversa sobre Evolução

Tive uma conversa hoje, com um amigo, mestrando em biologia genética - chamarei de D - , acompanhado de uma amiga. Resolvi poetizar um pouco a conversa, e transcrevê-la aqui:

O que define um predator?
D: Hm... Do ponto de vista da presa, ele precisa caçá-la. Aqueles que tiverem uma variação genética que os permita caçar com mais eficiência, terão mais comida, ficarão mais fortes, se reproduzirão mais e, consequentemente, repassarão seus genes para os herdeiros, perpetuando a característica vantajosa. Talvez se um grupo deles aprender a trabalhar em equipe por exemplo, ganhe uma vantagem sobre outro grupo e acabe dominando-o.

E um predador necessariamente faz o controle populacional de uma presa?
D: Hmm... Se existem muitas presas, os predadores podem se reproduzir mais, e se multiplicam. Chega um momento onde muitos predadores existem, e as presas consequentemente ficam escassas. Daí em diante, os predadores começam a disputar as presas, entrando em conflito. Os mais fortes vencem, se reproduzem, etc. Mas, não necessariamente fazem esse controle populacional.

Como se dão esses conflitos pelas presas?
D: Vence o predador que tiver mais vantagem. Se ele, por exemplo, tem uma variação genética que faz com que um chifre cresça nele, isso pode ser uma vantagem contra um predador sem chifre. Ele pode, talvez, aprender um truque que o dê vantagem contra outro predador despreparado...

Basicamente, ser mais forte ou mais inteligente?
D: Acho que sim...

E as presas? Como elas sobrevivem?
D: Basicamente, do mesmo jeito. Se uma presa tem uma variação genética que a proteja do predador - seja uma pigmentação diferente que a camufle em seu ambiente, seja uma variação que faça com que um chifre cresça em suas costas protegendo-a de ataques - ela tem vantagem em relação as outras presas... Sobrevive mais tempo, consequentemente se reproduz mais e passa seus genes pra frente.

Basicamente, é assim que uma espécie evolui, certo?
D: Certo.

O ser humano possui predadores?
D: Hm... Em alto nível, predadores da espécie, não...

Eu vejo um predador pro ser humano...
D: Explica-me.

Começando na questão da escravidão. Uma sub-espécie humana, por assim dizer - os brancos - usando de dinheiro, força, tecnologia e medo, dominou outra sub-espécie humana - os negros. De certo modo, foi exatamente como predadores vencendo predadores, só que com uma presa diferente: dinheiro e poder.

A reprodução e a consequente perpetuação de genes dos humanos no topo da hierarquia - a côrte real - segue o mesmo padrão dos predadores mais aptos. Eles se mantiveram no topo por bastante tempo, com vantagens sobre os demais predadores - mais alimento que os camponeses, por exemplo. Por outro lado, outra "sub-espécie", o clero, coordenava a ação das classes inferiores, com ferramentas de controle diferentes, mas ainda assim, ferramentas de controle. O objetivo (a priori) não era perpetuar seus genes mas, de certo modo, manter sua "sub-espécie" viva e no topo da hierarquia. Ambas as sub-espécies - clero e realeza - entraram em uma espécie doida de protocooperação contra os "predadores mais fracos". Vejo essa protocooperação como uma espécie de evolução do predador.
D: Que pensamento doido.

Não para por aí! Uma parcela dos "predadores mais fracos", em um certo ponto, descobriu um truque para dominar um tipo de presa: o dinheiro. Com esse novo truque, conseguiram fazer com que essa nova presa disponível trouxesse a outra presa - o poder - e conseguiram extinguir a sub-espécie de predadores dominantes anterior, a realeza. Eis que surge uma nova sub-espécie de predadores dominantes: a burguesia. O clero, de certo modo, também aprendeu esse novo truque e se manteve comendo das presas, mas sua ferramenta de controle sempre foi diferente.
D: Ok, o comportamente até faz sentido... Mas o ser humano ser predador do ser humano, não faz muito sentido...

É porque não é exatamente o ser humano que é o predador.
D: Quem é então?

Eu duvido que, se o ser humano tivesse consciência de que seus atos escravizam sua própria espécie, ele ainda assim o faria.
D: Porque o faz, então?

Exatamente por causa da inconsciência. Assim como acontece com as formigas - todas trabalhando seguindo as ordens da rainha; e também com os ratos - já ouvi histórias de que, se um rato morre em um lugar, "automaticamente" os demais ratos não passam por lá, por saberem que há perigo; assim acontece com o ser humano. É como Jung teorizou, o inconsciente coletivo. Esse inconsciente coletivo é a rainha do ser humano... É esse inconsciente que o homem segue, sem se dar conta, assim como as formigas seguem a rainha, sem se dar conta...
D: O inconsciente então é o predador?

Mais ou menos... Assim, ao mesmo tempo que existe um inconsciente coletivo, existe um consciente coletivo. Esse consciente coletivo explica porque os irmãos Wright e Santos Dumont inventaram um aparelho capaz de voar quase que ao mesmo tempo. Existem outros exemplos, como o telefone, o rádio, e as tecnologias atuais de celulares. Mesmo Darwin e Russel são outro exemplo. Se o inconsciente atrapalha a evolução humana, o consciente ajuda. É dentro desse consciente coletivo que entram as explicações pra uma possível mudança da humanidade... É como se, ao mesmo tempo, muitas pessoas estivessem tomando consciência disso, e formando uma nova sub-espécie de predadores - que, quem sabe, não precise predar.
D: E o predador então seria...?

Aquele que esconde o consciente. A mente. Esse poder de criação que temos, quando mal empregado, esconde o consciente e nos mantém reféns do inconsciente. Um exemplo claro é o marketing e a mídia: ambos, em cooperação, induzem o ser humano ao consumismo inconsciente. O governo, que supostamente deveria trabalhar pela igualdade do homem, o faz, mas sobre os holofotes errados: ele trabalha pelo igualitárismo inconsciente... E é um ciclo: os governantes são inconscientes, vendo as pessoas como números e estatísticas. Acreditando fazer o melhor possível, e se mantendo inconscientes, embriagados com poder e dinheiro. Com esse poder e dinheiro, eles compram o que a mídia lhes impõe: carros, festas, mulheres, etc etc etc. Um dos truques da mente.
D: Que pensamento triste!

Só se você parar de olhar aí. Somos animais, certo? Somos uma mera evolução dos macacos, macacos que aprenderam a usar ferramentas, só. A mente, em si, é uma ferramenta também. Enfim... Se somos animais, somos influenciados pelas mesmas regras que observamos. Se a presa desenvolve um tipo de imunidade contra o predador, ela evolui.
D: Transcender a mente?

Exato. Exatamente o que Buda e Jesus nos proporam, por exemplo. O budismo diz que tudo é ilusão. Se você restringir "tudo" ao mundo que nós vemos - mesmo porque, tudo que nós vemos/sentimos com nossos 5 sentidos são sinais elétricos, ondas sonoras e ondas de luz, interpretados pelo nosso cérebro, nossa mente nos dizendo o que é o quê - poderá dizer que tudo são só interpretações, não existindo, necessariamente, de verdade. É exatamente como se a mente fosse uma grande ilusão, um predador a ser vencido.
D: É um pensamento curioso, no mínimo.

Vou pensar mais nele, eu acho.

Eis que a amiga de D se pronuncia:
Cuidado ao pensar tanto...!


E eis que o predador se mostrou novamente...