terça-feira, 9 de março de 2010

O infinito ciclo

Eu não ia mais postar mesmo, mas acabei de ler uma notícia bastante perturbadora...

Sobre o oscar. "Guerra ao Terror" ganhando o dobro de estatuetas que "Avatar"...

Eu não assisti Guerra ao Terror, só li a sinopse e vi o trailer... Então posso estar errado mas, com isso em mente, me arriscarei a escrever de novo.

Já escrevi um pouco aqui sobre as influências negativas da televisão sobre as pessoas, mas existem também coisas positivas. Eu sou da geração que cresceu assistindo Capitão Planeta, e atribuo em partes a esse desenho toda a consciência ecológica que se fortificou tanto em mim quando eu comecei a abrir os olhos para o mundo ao meu redor. Quando criança (e quanto mais eu estudo a mente, mais percebo que é na infância que as raízes de todos os nossos comportamentos são criadas) uma semente de ecologia foi plantada na minha cabeça e agora, maduro o suficiente para cuidar do solo, a semente cresceu e se transformou numa planta saudável... (Nota aleatória: essa alusão de semente, planta, cuidar do solo... é usada nos ensinamentos de Buda e também de Cristo. Curioso, dado os 500 anos que os separam, além dos muitos kilometros, não? O corpo humano imita a natureza, ideia muito fundamental do Taoísmo. Cada pensamento recorrente (como a raiva, por exemplo) gera novos frutos e novas sementes, e se o seu solo mental está adubado para a raiva... Ela se prolifera como uma praga, cresce e toma conta de você...)

Achei Avatar um filme muito interessante. Me lembro de poucos filmes que mostram o homem como vilão, e não me lembro de nenhum que o fez tão bem. Ao meu parcial olhar, poucos são os filmes que podem vir a realmente acrescentar algo, e Avatar entrou na lista.
Logo no início, a ideia que nos propõe é que a consciência não está presa ao corpo. O fato do protagonista conseguir controlar outro corpo - como se fosse o seu próprio - deixa isso muito claro, de uma maneira muito sutil. A consciência não está mesmo presa ao corpo, vide os sonhos, tanto dormindo quando acordados... Já se pegou, em alguma ocasião, pensando em coisas completamente distintas do que ocorria ao seu redor? Já se pegou viajando? Uma expressão muito interessante, viajando... Sua consciência não estava presente, você estava em outro lugar. Um lugar que não existe: um pensamento que não existe em nenhum lugar palpável.

Outra ideia muito interessante do filme, é a íntima ligação dos Navi ao planeta. Eles e o planeta são um, eles e os animais do planeta, são uma só coisa. Eles sentem dor quando precisam matar desnecessariamente um animal, porque é uma parte deles que morre. Eles criam um ritual de morte limpa, para que a... consciência do animal morto possa renascer como um de nós... Reencarnação, assim como explicada no budismo... Evolução da consciência, compaixão.

O protagonista, humano, que diz em certo momento "eu não sei mais qual mundo é o real"... Sutil, muito sutil.

O mais óbvio e grosseiro do filme, a ganância e cegueira humana, seguindo seu Deus, cujo nome em sânscrito se escreve assim: $.

Porém, nem todos gostaram de Avatar. Muitas pessoas o chamaram de clichê, infantil, fictício e sem graça. Talvez seja, talvez eu é que esteja vendo coisa onde não há. Talvez não. Talvez essas pessoas que não perceberam esses pequenos ensinamentos passados no filme, estejam com a mente tão... grosseiramente programada, que não conseguiram captar as ideias mais sutis.

Seguindo essa linha, que tipo de semente é plantada na mente de uma criança (ainda que ela não tenha absolutamente nenhuma consciência disso) que assiste esse filme? A mente de uma criança é nitidamente menos poluída que a mente de um adulto, muito mais aberta a coisas sutis. As crianças percebem coisas que nós, acostumados ao mundo cruel(?!), não percebemos. Gosto muito de saber que a semente de um povo fortemente ligado ao planeta, fortemente ligado aos outros, onde o eu não é tão central, está sendo plantada em algumas mentes hoje.

Quanto a "Guerra ao Terror"... Mostra (e aqui está a maior chance de erro do post, porque, como disse, não assisti esse filme) o sofrimento dos soldados americanos, nos últimos momentos da guerra...
Correndo o risco de ser o Capitão Óbvio: guerra pra que mesmo? Sofrimento necessário? Ahn, é... Era necessário combater o terror, né? O mundo precisava de ordem! Não podemos permitir que uma nação ameace meu sonho americano, eu preciso entupir minhas veias com o sofrimento dos animais que me servem de prazer, digo, alimento. Meu sonho americano de ter uma arma em casa, pra me proteger de qualquer um que não se adeque ao maravilhoso sistema que nós construímos. Claro que meu conforto, fruto do meu sistema, é baseado no sofrimento de muitos, muitos outros humanos que, tirando a sorte, nada diferem de mim, mas não tem problema: meus canais pagos me dão todo o entretenimento que eu preciso, e eu acabo não pensando nessas coisas... Afinal, porque as faria? Pra me sentir mal? Prefiro fazer vista grossa...

Quão bonito seria um filme sobre as mulheres e crianças do oriente médio que simplesmente explodiam e morriam, em nome do Deus da terra, o onipotente $?

Não que as outras nações sejam belas, não quero dizer isso.

Mas, o comentário que motivou meu post: não é engraçado "Guerra ao Terror" ter ganho o dobro de oscars que "Avatar"?
Digo engraçado porque... É tão óbvio! Como nós vamos dar crédito, com nossas famigeradas estatuetas de ouro, um filme herege?! Claro que não! É preferível cortar os pulsos de Hollywood (pois Guerra ao Terror é um filme "independente") do que do nosso Deus. Hollywood se recuperará, se $ estiver no meio de nós. Mas, se os seguidores de $ começarem a acabar... o que será de "nós"??