sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Intelectualismo

Primeiro, cito um artigo que li por ai.
Os neurologistas (...) analisaram os resultados de 57 estudos sobre o consumo de café e suas consequências. Resultado: chegaram à conclusão que uma só xícara de café por dia pode (...) provocar sintomas de dependência, como dores de cabeça, cansaço, dificuldades de concentração (...) os cientistas citados exigem que a “síndrome da dependência do café” faça parte da lista das doenças neurológicas graves, que devem ser levadas muito a sério… Bem, se pensarmos que há bilhões de seres humanos que diariamente bebem café chegaremos depressa à conclusão de que este mundo está perdido!

É, o mundo está mesmo perdido. Não por causa do café, mas o café ilustra brilhantemente a situação.

O café possui cafeína, e a cafeína em excesso causa a dependência química. Mas, você consegue imaginar algo mais banal que o café? Está em todo lugar, em toda casa, em toda padaria. Eu conheço pessoas (e aposto que você também) que realmente dependem do café, que só acordam depois de tomar uma xícara dele. Já ouvi pessoas dizendo que tomam café durante toda a manhã no trabalho, mas só no trabalho. E sentem dores de cabeça no fim de semana. Abstinência, peculiaridade das drogas. Mas, qual mecanismo da sociedade permitiu que essa dependência se justificasse?

Bom, existem milhões de exemplos de como a sociedade foi aceitando produtos, principalmente alimentícios, que mais fazem mal do que bem. Além do proprio café, podemos citar o açúcar e refrigerantes. Ambos eram (e ainda são) drogas antes de se tornarem populares...

Mas o café tem um fundamento mais sutíl, apóia-se, muitas vezes, sobre uma base mais ampla... O intelectualismo.

O mundo te faz crêr que você precisa trabalhar pra ganhar dinheiro e satisfazer seus desejos. Mas antes, você precisa estudar bastante.
Ai entra o café.
O café tira o sono e, por esse motivo, populariza-se entre estudantes. Mesmo porque, estudar é um saco. Geralmente, quando você estuda, seja pra escola ou pra faculdade, mais da metade das coisas que você é obrigado a aprender, não lhe dão prazer algum. São nada menos que uma obrigação da instituição de ensino... Por isso são extremamente chatas, induzem a sonolência. Mas são necessárias! Você precisa se formar, trabalhar, realizar seus desejos, certo?

O intelectualismo é uma das maiores ilusões da atualidade. É intelectual aquele que muito sabe sobre determinados assuntos... O ser intelectual pode falar sobre inúmeras coisas mas, o que ele realmente sabe? Um ser intelectual é um saco de conhecimento, mas esse conhecimento não lhe pertence. Ele não aprendeu aquilo, ele retirou o conhecimento pronto de algum lugar - um livro, uma apostila, um professor - e aprendeu a empregar esse conhecimento nas coisas do mundo. O ser intelectual não passa de um computador: ele aprende as regras, recebe um problema, e dá uma resposta. Tudo movido a arrogância e café...

É engraçado... Toda pessoa estudada sabe o que é um átomo. Mas nunca viu nenhum! É esse o tipo de conhecimento que temos hoje... Uma decoreba.

Outra promoção da sociedade, esse intelectualismo. O bombardeamento diário de informações, muitas vezes completamente inúteis, faz com que o ser intelectual seja aquele que mais as absorve, melhor as organiza na sua cabeça. Informações superficiais, de fontes diversas, disconexas. O mais intelectual é aquele que pode falar do maior número delas, expor o maior número de pontos de vista (que ele ouviu ou leu. Ou bolou, a partir dos que ele ouviu e leu...).

Eu considero morar no Brasil uma dádiva, porque aqui é possivel observar todos os tipos de comportamentos doentios possíveis. (Evidentemente estou mirando só na parte ruim. Desde o começo do blog, aliás. Um dia, quem sabe, eu chego na parte boa :))
Existem grupos de pessoas que se fecham entre si, de tal maneira, que não permitem que pessoas diferentes deles se aproximem. Todos acabam ficando extremamente parecidos, pensando igual, e considerando os outros como diferentes. (isso se reflete não só nos pequenos grupos de pessoas... mas em todos os grupos de pessoas!)

Um exemplo disso são os japoneses. Não estou generalizando, posso estar enganado, não sou dono de nenhuma verdade, mas já vi diversos grupos de japoneses, aqui no Brasil, que só se entrosam entre si. Um pequeno grupo se forma, e se fecha. Os assuntos são sempre os mesmos, o último anime, o último mangá. Conheço japoneses mestiços que não conseguem se entrosar em grupos assim... Mas, porque? Seriam os mestiços tão diferentes? Duvido muito. O que acontece é que existe um certo nacionalismo intrínseco. Fala-se japonês na sua família, dentro de casa. Seus amigos só falam da cultura do seu povo. Você se fecha num mundo a parte - a sociedade japonesa, nesse caso. No Brasil!! Veja como isso é absurdo! Um dos países mais miscigenados do planeta. E você se fecha em um subgrupo ínfimo...

E, o pior. Dentro desse subgrupo, nada muda. A competição imbecil continua! Você é japones, você é naturalmente esforçado, voce é naturalmente superior aos demais. Você deve estudar muito, e ser mais intelectual que os seus colegas japoneses, seus semelhantes japoneses. Isso pra não citar seus rivais de outras nacionalidades, nem ouse ser inferior a um deles! Por isso a taxa de suicídio no Japão é a maior do mundo: alguns simplesmente não conseguem lidar com a idéia de errar, de ser inferior a outra pessoa, de trazer vergonha a família.

Assim como eu falei de drogas sem fazer apologia, eu cito esse exemplo sem racismo / julgamento / crítica. Mesmo porque o racismo é extremamente subjetivo... Se você não gosta de japoneses, vai achar que eu tenho razão. Se você gosta ou é japonês, vai achar que eu estou cometendo um crime... Mas, como disse, estou citando, sem me apegar a nenhum lado...

Voltando ao suicídio. O suicídio é a máxima de qualquer doença psicológica. E, por doença psicológica, eu quero dizer muita coisa. Nesse caso, o intelectualismo, o nacionalismo, a superioridade, a arrogância, o apego ao nome da família e as expectativas dela são tão extremas, tão extremas... Que uma falha significa que toda a sua vida perdeu o sentido. Uma única falha... Mas... Não é errando que aprendemos? Veja como a coisa fica sem sentido: você quer aprender tudo e, quando tem a chance de aprender algo... Você se mata. Se deus existe (e com letra minúscula, porquê deus não é uma pessoa (rebeldia contra o ensino fundamental!! _\m/)) e deus é vida... E a doença psicológica leva a morte... E a morte é o oposto da vida, de deus... Achei o diabo!!!! Mas eu vou falar mais sobre isso em posts futuros...


Mas, esse exemplo, foi só um exemplo. Se entre homens e chimpanzes, a diferenca de DNA é de 0,6%, imagine a diferença entre um japonês, um negro, um índio, um alemão? Nós somos todos absolutamente iguais, exceto por características físicas. E daí?!? A menos que você tenha um irmão gêmeo, você não é idêntico a mais ninguém mesmo! Que diferença faz se a cor da sua pele é diferente da cor da pele de outra pessoa? O racismo é tão estúpido quanto um grupo de pessoas com nariz grande debochar de pessoas que não tem nariz grande. E, mesmo dentro desse grupo, com certeza haverá o rei, aquele com a maior narina possível... Assim é o homem...

Enquanto estivermos presos a intelectualismo, crenças, consumismos, egoísmo, tradições, racismo, superioridade... Enfim, a qualquer ego... Não enxergaremos o óbvio. Não enxergaremos nosso papel no todo, não entenderemos o enigma que a existência* nos propõe. E, por mais que obtenhamos sucesso... Estaremos fracassando!

*Qual seu propósito? Porque você é um homem e não um cachorro, ou outro animal?

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